sunset 2909384 960 720 - Victória O’Brien e o Saltério dos Mortos – Cap. 2

21/01/2021

Capítulo dois

O despertar

As chamas eram lindas pude notar isso apesar do terror da situação. Tinha algo nelas de único, especial. Elas me chamavam. Me convidavam a passar por elas e seguir meu caminho ladeira acima. Pelo menos era essa a sensação que eu tinha ao olhar para as mesmas naquele momento. Sua beleza era ímpar. O fogo crepitava e as chamas dançavam em tons de vermelho, amarelo e laranja. Podia ouvir seu crepitar.

Parei de olhar para o fogo.

Os sons de tiro aumentaram e o intervalo entre uma rajada e outra também. Era como se outros tipos de armas estivessem sendo usadas agora. Saí daquele estado contemplativo e segui em frente, mas não em direção ao fogo. Contornei o ônibus e passei encolhida para não me queimar.

Subi a ladeira correndo. Era uma rua sem saída bem arborizada. Passei por uma chuva-de-ouro depois continuei subindo com os sons de tiro ficando mais intensos. Meu coração estava disparado e a cada passo que dava rezava para não ser acertada por uma bala perdida. O ônibus queimado explodiu de novo ao fundo. Fiquei com medo ao pensar se ele estava realmente vazio ou não.

Não olhei para trás e lá em cima vi algo que me deixou ainda mais nervosa (se é que era possível), alguém estava se abrigando atrás de uma árvore – uma eritrina-candelabro – em um barranco de terra batida. Em uma escadaria vertical que dava em uma viela vi um homem com uma camisa no rosto. Só os olhos estavam para fora. Ele me encarou.

Gelei.

Não podia continuar correndo, pois notei que ele tinha uma faca na mão. Os tiros cessaram. Ele olhou para o outro lado e eu rapidamente corri para a minha vila. Fiquei de frente para o portão verde de ferro que dava acesso a vila. Corri as mãos nervosamente no bolso da mochila. Aonde estava a chave do portão?! Estava muito tensa o confronto armado poderia recomeçar a qualquer minuto. Eu não sabia o que estava acontecendo.

Quem estava lutando com quem e, honestamente, não queria saber e principalmente, não queria me ver no meio do fogo cruzado novamente. Continuei procurando apressada a chave. Praguejei quando toquei no estojo e não nas chaves. As encontrei por fim e abri o portão! Bem na hora os tiros recomeçaram.

Entrei.


As horas seguintes passaram devagar com a apreensão aumentando a cada vez que os terríveis sons voltavam. Iam e viam, mas felizmente minha mãe estava bem em casa. Não chegou a me dar um esporro por subir correndo a ladeira. Ela também estava preocupada e só me disse para não fazer isso de novo.

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Minha casa tinha um quarto e era alugada. Não tinha mais do que 120 metros quadrados. Na sala havia uma televisão preta de tubo, um sofá de três lugares azul marinho e um rádio cinza escuro com uns buracos que minha mãe dizia serem feitos para fitas cassete seja lá o que for isso. No único quarto da casa estavam dispostas a minha cama – de uma gatinha branca fofa – e a de minha mãe. Tínhamos também uma geladeira e um computador dos anos noventa amarelo (um dia fora branco, mas eu já quase nem me lembro mais disso) enfim era isso. Tudo era muito modesto.

No fim da tarde enquanto o céu era banhando com tons laranjas fortes do pôr do sol e a lua já se insinuava magistralmente lá no alto eu abri a porta da humilde casa para ver como estava o pátio da vila. Ao todo tinham dez casas dispostas cinco de cada lado em um terreno retangular. O rosto de minha mãe esboçou preocupação e eu disse que só iria ver o movimento. Não conseguia na verdade ficar trancafiada. Se não fosse o risco de um novo tiroteio com certeza iria sair e ir para o baile.

Ou talvez encontrar Ana e Lúcia duas das minhas vizinhas não da vila, mas da rua. Era um saco tudo isso! Interromper minha vida graças aos tiros. Se bem que mesmo que eu não gostasse de admitir eles também já faziam parte da minha rotina. O lugar em que vivíamos era violento demais. Isso era ruim e eu me sentia muito desconfortável com o fato da violência acabar entrando não só na minha rotina como na de todos os moradores daqui. Acabara se tornando algo natural quando não deveria ser.

Pessoas se machucam de verdade nessas contendas e isso me incomodava. A verdade era que eu estava farta de morar aqui. Enfim acabei saindo e fui até o portão. Estava tudo calmo. Não havia ninguém na rua. Pensei que ficar ali também não seria bom então voltei e vi uma imagem que jamais saiu de minha cabeça. Fiquei aterrorizada e gelei quando aqueles terríveis olhos me fitaram de forma abrupta. Eram vermelhos e emitiam um brilho sobrenatural. O rosto uma sombra negra e disforme. A coisa deveria ter uns dois metros de altura e estava acocorada como um urubu no telhado de minha casa.

O corpo era todo preto e parecia ser feito de piche. A criatura era humanoide com garras nas mãos e pés e o mais estranho: assas! Precisava sair dali porque a coisa inspirava o mais profundo medo em mim. Tive a sensação instantânea de que algo muito ruim iria acontecer. Não sabia se ainda era possível piorar mais. Só que quando você tem problemas deve sempre tentar manter uma postura otimista porque as coisas podem realmente piorar. Por mais que não gostemos sempre há o subsolo do fundo do poço! A coisa levantou voo e pude notar que suas assas eram imensas com mais de cinco metros de envergadura!


Isso não fazia o menor sentido! Como algo tão grande poderia alcançar voo tão rápido estando tão perto do chão! Quer dizer minha casa não tinha nem dois andares! O que era aquilo?! Eu corri! Não fiquei para descobrir. Entrei na primeira casa próxima ao portão. A porta por sorte não estava trancada e minha vizinha a Dona Alberta pulou do sofá com o susto! Olhei pela janela dela e a coisa havia sumido como se nunca tivesse passado por ali.

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Tomei um esporro federal! Estava em casa depois do que ocorreu e minha mãe dizia “Como você sai entrando na casa dos outros assim? ” “E se o marido dela estive em casa e lhe esmurrace achando que você era uma assaltante ou algum tipo de ladra! ” “Mas porquê ir até o portão depois de um tiroteio?!” “Você disse que iria só até a janela! ” “Eu pisco o olho e você sai! ” E a coisa se arrastou por mais uns trinta minutos de sermão.

Ela disse que eu era irresponsável. Falou que eu não tinha juízo. O pior é que dessa vez eu estava certa tinha visto um monstro e ela não acreditou. Não podia culpá-la eu também não acreditaria se ouvisse isso de alguém e ela só não pegou mais pesado com as palavras porque estava convencida de que eu vira realmente alguma coisa. Embora não soubesse exatamente o quê. Eu ainda tremia de medo. A coisa foi tão real mais tão real. O que estava acontecendo comigo? Premonições, atração repentina por chamas de um ônibus e agora um monstro? Eu vi um monstro?!

Não tinha resposta e tão pouco minha mãe. Ela agora mais calma me fitava com um olhar pensativo. Quase como se não soubesse o que fazer comigo. Sentei no sofá e fui assistir televisão. Eu estava com uma camisa branca e short jeans. Em um de meus bolsos estava um lenço preto bordado com letras douradas formando a frase “Brighid a chosaint tú” que em irlandês significa: “Que Brighid lhe proteja”. Não que eu saiba irlandês, na verdade, minha mãe traduziu, pois aprendera um pouco com meu pai. O lenço era dele e Brighid era uma deusa da mitologia celta.

Minha mãe Melissa tinha cabelos castanho claros, pele branca e um par de olhos cor de âmbar. Embaixo deles se podia ver olheiras não de falta de sono mais de preocupação com problemas, contas e um baixo salário. O rosto também trazia consigo as marcas de anos de penúria e sofrimento. A família dela – Del Valle – já teve posses no Sul do Brasil.

Meu avô era um senhor de classe média (contador) que conseguira um patrimônio bem interessante, porém se envolveu com gente ruim. Fez coisas ruins e se corrompeu ao ponto de ter que prestar contas à Justiça. Ele não aguentou a barra e não quis envolver minha mãe e sua esposa na história. Vendeu tudo e tirou a própria vida para não ir preso. Minha avó não aguentou tudo isso. Depois de algum tempo veio com minha mãe para o Rio de Janeiro.

Depois acabou vindo a falecer. Felizmente nessa época minha mãe conheceu meu pai e foi feliz por algum tempo. Ele morreu quando eu tinha um ano. Nunca soube o motivo, mas sei que foi devido a uma complicação de uma doença severa. Minha mãe na verdade não gosta de falar do passado.

Antes eu fazia questão de perguntar mais sobre meu pai, contudo parei. Na verdade, nem me lembro do rosto dele. Tem horas que é difícil ser filha única. Não ter irmãos ou parentes… é bem solitário. Imagino que deva ser complicado para minha mãe também.

No fim das contas ela só ficou com o ensino médio e uma filha.

Ah… puxa isso ainda mexe comigo. Essa parte é mais complicada do que a aparição que presenciei no meu telhado.

Bem tenho que continuar.

O dia acabou por fim e a noite veio bela e formosa como uma dama fina e elegante. Ela trazia consigo um frio incomum para uma noite de março. Não sei porque, mas abracei minha mãe e fiquei coladinha com ela por alguns minutos. Me sentia angustiada com um pesar no peito difícil de explicar em palavras. Era como a mesma sensação que eu tivera mais cedo. Temia que algo ruim fosse acontecer.

Minha mãe foi pega de surpresa e me olhou estupefata e logo disse:

— Filha o que foi? Você nunca foi de abraços.

Isso era estranho mesmo. Respondi:

— Não é nada eu só… eu não sei.

— Filha hoje foi um dia duro para você não foi? Não se assuste. Não se revolte. Não se deixei influenciar por toda essa violência que nos cerca. Não permita que a dor a guie e sim o amor.

Minha mãe afagou meu rosto e fez carinho em meu cabelo. Uma lágrima fugiu do meu olho esquerdo. Não gostava disso. Não gostava de chorar na frente de ninguém. Nem mesmo na frente de minha mãe. Entretanto no momento não protestei diante da lágrima intrometida. Apenas falei:

— Eu só… não queria… viver em um lugar tão violento.

— Filha eu compreendo, mas você sabe que não há outro jeito. Não temos dinheiro para nos mudar para outro lugar.


Fiz que sim com a cabeça e vi o olhar de minha mãe se desvencilhar de encontro à noite ao ver a janela e fitar todas aquelas pequenas luzes que iluminavam a nossa comunidade. Fiz o mesmo e em uma prece silenciosa roguei para que tudo aquilo não acontecesse de novo. Mais a noite estava prestes a ficar mais sinistra e medonha trazendo consigo coisas tão nefastas quanto a violência e a dor que inundam os tiroteios em uma favela.

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Dormi e sonhei que estava caminhando em um matagal à beira de uma estrada deserta. Era noite e eu nada via a não ser uma antiga casa a minha frente. Feita de madeira com dois andares parecia uma daquelas casas que a gente vê em filmes americanos. A noite estava fria e o vento uivava quando de repente tive a horrível sensação de estar sendo observada.

Corri em direção a casa e vi que a porta estava aberta. Entrei e fechei-a. Peguei meu celular e liguei a lanterna. Estava tudo completamente escuro e ao passar a luz pelo interior da casa notei que por dentro ela estava se deteriorando. Tinha uma enorme infiltração no teto e o chão estava cheio de jornais velhos e amarelos.

Senti um cheiro horrível e vi que havia algo morto à frente. Achei que era um gato. Fiquei nauseada e mudei de cômodo. Fui para o que devia ser uma cozinha. Lá era pior, pois o cheiro da entrada se misturava ao de comida estragada que estava entupindo uma pia imunda. Lá também havia uma geladeira que um dia fora branca na lateral, mas completamente envolta em ferrugem. Um armário com copos de vidro quebrados. Muitos dos quais, aliás, se encontravam no chão que além dos cacos exibia um líquido enegrecido. Já no centro do cômodo havia uma mesa com uma prataria repugnante e suja e um cutelo grande.

Era tudo muito bizarro, mas o pior é que a sensação de ser observada continuava. Saí da cozinha e fui parar em um corredor pequeno. Parei de andar e corri para trás. Não podia mais continuar era algo insensato demais. Meu coração palpitava a cada passo apressado que minhas pernas davam. Seja lá o que for que estivesse lá fora não podia ser pior que aquela casa. Me forcei a continuar agora já com um gosto metálico na boca e o estômago já quase a sair de dentro de mim dado o nível de meu enjoo.

Gelei ao finalmente chegar a porta e perceber que ela estava trancada! Agora já não sentia mais que estava sendo observada e sim que algo estava vindo em minha direção. Tive a sensação de que a coisa lá fora e a que estava agora aqui eram a mesma criatura. Algo sombrio e nefasto. Não ousei olhar para trás, contudo sabia que seja lá o que fosse estava na cozinha. Pensei em tentar arrombar a porta mais sabia que não tinha força para isso. E acho que o barulho só pioraria as coisas. Corri os dedos na tela do celular e ao tentar ligar para a polícia vi que estava sem sinal. Sem créditos tudo bem afinal a ligação completaria do mesmo jeito, porém sem sinal não dava! Droga! Por que não peguei aquele cutelo lá na cozinha?!

Foi aí que eu vi.

Chamas rubras, tênues e fracas que guardavam dentro de si nada além de um semblante nefasto. Extremamente perturbador. Não dava para ver direito, contudo se podia sentir o Mal naquela criatura sombria. A coisa foi se aproximando da luz do celular. Mostrando parte de um rosto esquelético. Um crânio de ave desproporcionalmente grande e um bico. Uma visão medonha.

Um crânio que formava um rosto morto e sem carne dentro de um capuz negro que exibia em seu interior uma serpente com escamas de um negro tão intenso que se mesclava a um branco pálido. Ela fincou seu olhar no meu e abriu a boca que parecia ter sido banhada em piche. Eu já tinha visto aquela serpente antes em um filme de uma noiva que buscava vingança: era uma mamba-negra! O homem do rosto de ossos de pássaro se aproximou de mim e com uma mão pálida e unhas negras e grandes ergueu o indicador e tentou aranhar meu braço!

Acordei com um salto, suando muito e com o coração na boca!

Era um sonho felizmente e então disse comigo mesma:

— Nossa se fosse um filme de terror agora o meu braço estaria aranhado.

Olhei para o braço só para garantir e não havia nada.

— Mocinha o aranhão vem agora! Tenha medo Victória! — Uma voz horrível inumana e gélida se fez soar ao meu redor. O homem estava ao meu lado! O homem do capuz negro!

Pulei da cama e minha mãe veio ao meu auxílio!

— Victória o que houve?!

Neste mesmo instante a cama explodiu fazendo centenas de pedaços de madeira voarem pela sala! Fomos ao chão minha mãe e eu. Olhei desesperada para onde o homem estava só para arfar de dor. Minha pele queimava e em meu ombro direito vi um pedaço de madeira de uns quarenta centímetros enterrado. Chorei. A dor era lancinante, porém ainda assim encontrei forças para levantar minha mãe que estava atônita ao meu lado.

Eles entraram nessa hora: cinco seres medonhos. A pele deles era cinza, os olhos costurados e o corpo era humanoide. Tudo o que tinham para cobrir-lhes era um pedaço enegrecido de pano preto que um dia deveria ter sido uma calça. Agora, contudo cinza e desbotado. Os pés e a mão direita tinham garras e no lugar do antebraço esquerdo uma lâmina curva de uns sessenta centímetros enferrujada. A cabeça sem um fio de cabelo, não tinham orelhas e no lugar do nariz havia um buraco. Na testa deles uma marca: uma serpente envolvendo um triângulo. Cheiravam muito mal como se fossem feitos de carne podre.

O que eram aquelas coisas bizarras? Eu me perguntei. E enquanto eu ajudava minha mãe a se levantar um deles se aproximou devagar mancando da perna esquerda e quanto mais perto ele chegava mais eu podia sentir seu cheiro nojento. Olhei para minha mãe e notei que ela estava prestes a desmaiar. Logo em seguida foi o que ela fez e eu tive dificuldade para amparar seu corpo inconsciente. Os outros quatro monstros acompanharam o primeiro e começaram a me cercar.

O que eu faria? Não sabia. Um deles começou a lamber incessantemente os próprios lábios e eu fiquei enojada. Era repulsivo demais o que só fez o temor que eu sentia pela minha segurança e de minha mãe aumentarem. Um outro começou a bater os dentes como se estivesse com frio e um terceiro começou a balbuciar algo em uma voz rouca e grave quase como um grunhido:

— Tenha… medo.

Quem eram estes monstros? Não queria saber. Tudo que eu desejava naquela hora era ficar quietinha no meu canto com minha mãe! Em paz! Queria que aquilo tudo fosse apenas um sonho, distorcido e nefasto, mas um sonho! Mas não era. Era mórbido. O homem do crânio de pássaro saiu do meu pesadelo! A dor me apunhalou de forma severa. Minha aflição estava aumentando e me afastei daquelas coisas lutuosas. Estava em choque! Não sabia o que fazer!

O homem do capuz virou sua cabeça para mim e tudo o que vi foram as orbitas vazias do pássaro morto. Seus olhos não estavam mais “acesos”. Minha mãe começou a recobrar a consciência. Eu a segurava muito mal com meu braço bom apoiando-me na parede para poder suportar seu peso. Ela então voltou a si e naquele único momento eu vi em seus olhos cor-de-mel abertos algo que jamais me esqueci.

A presença viva do verdadeiro terror impresso neles quando uma das criaturas correu e a apunhalou com a sua lâmina que servia de braço. Um furo bem na cabeça do osso do rádio. Meu medo neste momento foi incinerado pelo ódio visceral que me inflamou por dentro ao ver minha mãe ferida. Bradei em agonia um grande NÃO!  Me perdi então em raiva e frustação. Fagulhas de fogo surgiram indistintas em meus dedos e logo minhas mãos arderam e se incendiaram.

Chamas correram em direção a criatura que tentou tirar minha mãe de mim e ela foi queimada. A coisa se debateu no chão e as chamas se espalharam no sofá da sala que começou a pegar fogo. As outras criaturas sentiram o calor aumentar e correram enquanto o homem do capuz não se mexia. A criatura que fora alvejada pelas chamas começou a urrar gritos medonhos de agonia por conta da dor causada pelo fogo até que parou de se mexer e quando dei por mim as chamas do sofá haviam se espalhado pela casa que agora estava pegando fogo

Não queria saber, porém de nada: abracei minha mãe com as mãos apagadas agora, contudo testemunhei um incêndio se formar. Não podia acreditar em nada daquilo. Minhas mãos estavam normais de novo e tudo o que eu pensava não era na combustão delas e sim em minha mãe.

Minha mãe… estava com os olhos pequenininhos e a ferida era… Céus profunda. Pus minha mão esquerda para estacar o… sim… o sangue. Ela estava pálida mais ainda estava… viva! Ela disse fraca:

— Seu Apolônio.

Como? Quem era seu Apolônio!? Precisava tirar ela dali, mas meu ombro doía muito. Droga! Não sabia o que fazer olhei em volta e a sala estava sendo lambida pelo fogo. Estava muito quente. A fumaça começou a surgir e a minha respiração estava falhando. Eu estava sufocando! Gritei:

— Fogo!

O homem encapuzado agora estava no lugar da porta. Ele não iria deixar eu sair? E os vizinhos!? Ninguém viria em meu auxílio? Pelo visto não. O homem começou a andar em minha direção. Ele parecia não ser atingido pelo fogo. Juntou-se a ele nesta caminhada nefasta a criatura que eu havia queimado. Agora ilesa como se nada tivesse acontecido com ela. Olhei para minha mãe e me perguntei se era assim que nossas vidas seriam ceifadas.

Eu sabia que sim.

Foto: pixabay